domingo, 31 de dezembro de 2023

Os 20 melhores filmes lançados no Brasil em 2023

Mais um ano que se encerra, e chegou a hora de fazer a famigerada lista dos melhores filmes lançados no Brasil. Primeiramente, gosto de lembrar o método que eu utilizo para a escolha dos filmes: só valem filmes que estrearam oficialmente no país entre 1º de janeiro e 31 de dezembro, seja nos cinemas, no streaming, ou em festivais que abrangem o país todo, como é o caso do Festival Varilux.

A lista de 2023 conta com a presença de cineastas já consagrados como Steven Spielberg, Martin Scorsese e Christopher Nolan, mas também de grandes nomes expoentes, como Martin McDonagh, Damien Chazelle, Ruben Ostlund, entre outros. Um dos pontos que chamo a atenção para esse ano é a presença massiva de filmes brasileiros, já que 2023 foi realmente um ano muito bom por aqui. Enfim, sem mais delongas, vamos à lista:


20. Nimona, de Nick Bruno e Troy Quane (Estados Unidos)


 

A melhor animação do ano aparentemente passou batida do grande público, e é uma pena. Lançado diretamente no catálogo da Netflix, Nimona é um filme extremamente carismático, na mesma medida em que trata assuntos importantes e atuais, como preconceito e até mesmo luta de classes. Mas apesar de ter críticas sociais bem definidas, Nimona também funciona em uma camada mais superficial, sendo também um bom entretenimento para todos os públicos, com personagens adoráveis e um roteiro muito envolvente.


19. Afire, de Christian Petzold (Alemanha)


O que no início aparenta ser apenas um filme leve de férias, onde dois amigos estão indo passar alguns dias na casa de praia da mãe de um deles, se transforma em uma complexa narrativa sobre o surgimento do amor, do desejo e sobretudo do ciúmes, quando eles descobrem que uma mulher desconhecida está hospedada no local. Afire é um filme que prioriza a construção de seus personagens nos detalhes, e as atuações são o ponto alto nessa retrato cru e fiel da natureza humana.


18. Tár, de Todd Field (Estados Unidos)


Com uma atuação incrível de Cate Blanchett, o filme acompanha a vida da compositora e maestro fictícia Lydia Tár, ganhadora de inúmeros prêmios na carreira e considerada uma das maiores de seu tempo. No entanto, o tamanho do seu talento é proporcional ao seu ego, e Lydia acaba sendo uma pessoa fria e até mesmo execrável na maior parte do tempo, principalmente com seus alunos. Quando uma destas alunas se mata, Lydia acaba sendo considerada a principal responsável, e sua vida muda do avesso após a acusação.


17. John Wick 4, de Chad Stahelski (Estados Unidos)


Após três filmes e um sucesso estrondoso e inesperado de bilheteria, a saga John Wick chegou ao seu quarto filme, que visualmente é uma das coisas mais impressionantes que eu assisti nestes últimos anos. A fotografia é o ponto alto, e todos os cenários são incrivelmente majestosos, cada um com sua própria personalidade que vai ditando o tom do filme e o que se espera de cada cena. Alguns momentos de ação são brilhantes, como a cena em que John Wick luta dentro de uma casa e a câmera filma de cima, como se fosse em um videogame. Eu, que não era tão fã da saga, me rendi completamente neste seu ato final. Sublime!


16. Godzilla: Minus One, de Takashi Yamazaki (Japão)

No apagar das luzes, um dos melhores filmes do ano. Lançado agora em dezembro, Godzilla: Minus One não só entra na lista de melhores de 2023, como também é um dos melhores filmes já feitos sobre o monstro Gojira, que teve sua primeira aparição nas telas em 1954. Com produção japonesa, e direção de Takashi Yamazaki, o filme é um espetáculo visual, mas vai muito além disso, conseguindo resgatar toda a essência do que representa o Godzilla, trazendo o olhar da sociedade civil japonesa, que na época estava desolada após a Segunda Guerra Mundial e vivia com o medo constante de um novo ataque nuclear.

 

15. Noites Alienígenas, de Sérgio de Carvalho (Brasil)


Noites Alienígenas é mais um grande exemplo da pluralidade cultural deste país imenso chamado Brasil. Talvez não exista no mundo uma nação que abrigue tantas culturas diferentes dentro de um mesmo território, e o nosso cinema tem sido um grande aliado para nos revelar isto. Considerado o primeiro longa filmado inteiramente no Acre, o filme do cineasta Sérgio de Carvalho nos aproxima deste Estado tão distante da região central do país, trazendo uma história que não possui um protagonista de fato, mas sim vários personagens principais, que homogeneamente montam um panorama da Rio Branco contemporânea e seus múltiplos estereótipos.


14. Monster, de Hirokazu Kore-eda (Japão)


O japonês Hirokazu Kore-eda usa uma história simples, mas muito humana, para montar um panorama da sociedade japonesa atual, onde aborda temas como amizade, bullying na infância e o papel de pais e educadores na construção da personalidade das crianças. O roteiro acompanha três pontos de vistas diferentes de uma mesma história, que inicia após a mãe de um menino perceber alterações na sua personalidade e também alguns machucados pelo seu corpo. A primeira acusação recai sobre o professor dele, mas até o fim do filme, vários pontos vão sendo interligados, montando um quebra-cabeças que culmina em um final poderosíssimo.


13. Tia Virgínia, de Fabio Meira (Brasil)


Em Tia Virgínia, a personagem que dá nome ao título é uma mulher que não seguiu os padrões impostos pela sociedade, e aos 70 anos de idade nunca casou e sequer teve filhos. Liberdade, no entanto, não é um palavra que define a sua vida, já que ela acabou sendo praticamente obrigada pelas irmãs a cuidar da mãe doente até o final dos seus dias, vivendo enclausurada na antiga casa da família onde acompanha tediosamente a passagem do tempo. O roteiro se passa durante a noite de natal, onde ela recebe a visita das irmãs e dos sobrinhos para uma confraternização, onde as feridas do passado voltam a ser abertas e escancaradas de maneira agridoce.

 

12. Babilônia, de Damien Chazelle (Estados Unidos)


Babilônia é, para mim, um dos filmes mais subestimados do ano, não só pelo público em geral mas também pelas premiações, que o ignoraram sem dó no início do ano. Insano, despudorado e extremamente caótico, o filme de Damien Chazelle encontra nesse seu próprio caos o espaço para fazer uma apaixonante homenagem à sétima arte. O roteiro se passa nos anos 1930, época em que o cinema ainda engatinhava e passava pelo processo de transformação entre o cinema mudo e o cinema falado, e consegue resgatar toda a essência da época com primor.

 

11. Anatomia de uma Queda, de Justine Triet (França)


Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano, Anatomia de uma Queda estreou no Brasil através do Festival Varilux. O roteiro apresenta um mistério que literalmente transforma o espectador no jurado de um suposto crime de homicídio, sem no entanto jamais apresentar a resposta conclusiva do que aconteceu. A diretora Justine Triet inteligentemente brinca com as nossas perspectivas a respeito da verdade, e é essa subjetividade do roteiro que faz ele ser tão complexo e envolvente. Mais do que um thriller de tribunal, é um estudo de uma relação conturbada e desgastada.


10. Sem Ursos, de Jafar Panahi (Irã)


Há que se ter muita coragem para fazer um cinema político dentro de um país engolido por um regime fundamentalista. Dito isso, é impossível não sentir uma enorme admiração pelo trabalho de Jafar Panahi, que sempre foi conhecido por criticar as políticas dos governos iranianos e questionar as contradições da sociedade conservadora do país. Sem Ursos apresenta duas histórias paralelas, sendo uma delas protagonizada pelo próprio Panahi, que interpreta ele mesmo. Na história, ele está passando uns dias em uma casa alugada perto da fronteira do Irã com a Turquia, de onde comanda as filmagens de seu novo filme rodado no país vizinho, já que está proibido de sair do Irã. O roteiro não é mera coincidência com a sua vida real, e as analogias que ele faz das situações do filme com as situações que ocorrem no seu país diariamente são complexas e extremamente necessárias.


9. Retratos Fantasmas, de Kléber Mendonça Filho (Brasil)


Em um projeto íntimo e pessoal, o cineasta Kléber Mendonça Filho fala das mudanças implacáveis que o tempo produz, traçando um paralelo entre a sua própria trajetória e o centro de sua amada Recife, e tendo como pano de fundo os cinemas de rua que fizeram história no local e que hoje praticamente não existem mais. O documentário é dividido em três capítulos, sendo todos narrados de forma quase informal pelo próprio diretor. Os "retratos fantasmas" do título nada mais são do que a captura que fazemos dos momentos, dos lugares, e das pessoas que muitas vezes não existem mais, mas ainda permanecem conosco através de fotos, vídeos ou simplesmente incrustados na memória.


8. Triângulo da Tristeza, de Ruben Ostlund (Suécia)

 

Depois do excelente The Square, o cineasta sueco Ruben Ostlund voltou à cena com Triângulo da Tristeza, outra comédia ácida e divertidíssima sobre o comportamento humano, sobretudo dos milionários, e que venceu a Palma de Ouro em Cannes em 2022. O filme é dividido em quatro partes, contendo um rápido prólogo seguido de três capítulos, e desnuda sem pudores toda a hipocrisia da classe mais abastada, com um final arrebatador (e bem divisivo).


7. Pedágio, de Carolina Markowicz (Brasil)


Escrito e dirigido por Carolina Markovicz, Pedágio tem como ponto central mostrar a hipocrisia da igreja e de seus seguidores, assumindo um tom de sátira que faz o filme ser extremamente carismático em alguns momentos, mesmo abordando temas obscuros como o preconceito e a busca disparatada por uma "cura gay". Sabendo do absurdo que é a ideia de existir um tratamento para alguém deixar de ser homossexual, a diretora não economiza na ridicularização disto, ao mesmo tempo que traz personagens riquíssimos que compõe um panorama da sociedade brasileira atual.

 

6. EO, de Jerzy Skolimowski (Polônia)

 

Acompanhando a jornada de um burro por lugares ermos da Polônia, o diretor tenta mostrar, pelos olhos do próprio animal, como é dura, melancólica e solitária a vida de um ser que, de uma maneira geral, só está na Terra para ser "usado" por nós humanos. A forma como o diretor nos apresenta o burrinho é extremamente realista e ao mesmo tempo humana, com foco em suas expressões e principalmente nos seus olhares. Tanto que ele consegue segurar nossa atenção por quase duas horas apenas acompanhando a jornada do animal, que vai passando por várias situações diversas, algumas bem dolorosas.


5. Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese (Estados Unidos)


Em Assassinos da Lua das Flores, Martin Scorsese resgata uma das páginas mais sombrias da história dos Estados Unidos, que ficou conhecida como "Reinado do Terror", onde dezenas de indígenas da nação Osage foram mortos pela ganância inescrupulosa do homem branco. Baseado no livro homônimo de David Gran, o filme traz à tona os acontecimentos e a investigação destes casos, fazendo acima de tudo uma bonita homenagem ao povo nativo americano e seus costumes.


4. Os Banshees de Inisherin, de Martin McDonagh (Reino Unido)


Em Os Banshees de Inisherin, Martin McDonagh utiliza um argumento muito original para falar sobre a fragilidade dos relacionamentos pessoais, de uma maneira melancólica mas ao mesmo tempo engraçada. O filme se passa em uma ilha remota da Irlanda, onde os poucos moradores vivem uma vida extremamente pacata no final dos anos 1920. Neste ínterim, dois amigos até então inseparáveis, acabam tendo a relação cortada abruptamente por um deles. Sem entender e muito menos aceitar, o outro amigo decide forçar uma reaproximação, gerando uma série de consequências que irão afetar a vida de todos os moradores da região.


3. As bestas, de Rodrigo Sorogoyen (Espanha)


O thriller psicológico criado por Rodrigo Sorogoyen, e ambientado na zona rural da Espanha, é intenso, sufocante e até mesmo desconfortável em muitos momentos, porém extremamente brilhante em tudo o que propõe. Ele acompanha um casal de franceses que foi morar um um vilarejo na região da Galícia, onde constroem casas comunitárias para fazer crescer a população local. No entanto, o clima entre eles e os vizinhos é bastante hostil, principalmente por eles terem sido os únicos a votarem em uma assembleia contra a instalação de uma usina eólica na região, o que na visão dos outros moradores traria dinheiro e progresso. Esse ódio vai, a conta gotas, se tornando algo cada vez mais perigoso e violento, já que os irmãos passam a amedrontar o casal e a transformar a vida deles em um verdadeiro inferno.


2. Oppenheimer, de Christopher Nolan (Estados Unidos)


Em Oppenheimer, Christopher Nolan nos apresenta de forma grandiosa e ousada o caminho percorrido pelo brilhante físico J. Robert Oppenheimer, considerado o "pai da bomba atômica", desde a época em que ele era apenas um estudante promissor em Cambridge até o momento pós Segunda Guerra, onde acabou sendo perseguido pelo governo americano sob acusação de cooperar com os soviéticos. Apesar do foco ser o desenvolvimento da bomba H, é importante dizer que o grande embate do filme é a perseguição política que Oppenheimer sofre depois disso por ter tido ideias de esquerda. O que vemos aqui é uma construção de personagem fantástica, e isso se deve muito a atuação de Cillian Murphy, provavelmente a melhor da sua carreira no cinema. O filme possui cenas emblemáticas, que certamente serão lembradas por muitos anos, e o grande "clímax" pode ser considerada facilmente como uma das maiores realizações da história do cinema no século, tanto na parte visual como na imersão que ela propôs ao espectador.


1. Os Fabelmans, de Steven Spielberg (Estados Unidos)


Lançado ainda na primeira semana de janeiro, Os Fabelmans é a obra autobiográfica do diretor Steven Spielberg, que conta através do personagem principal, a sua vida desde a infância, até o nascimento da sua paixão pelo cinema. O roteiro é uma verdadeira viagem por dentro deste "álbum de memórias" do diretor. A relação conturbada dos pais, a depressão da mãe, o racismo sofrido na escola por ser judeu, e até mesmo uma traição dentro da família, são alguns do temas mais fortes trabalhados aqui, e que vão moldando o surgimento de um grande cineasta. Acompanhamos também desde o primeiro contato dele com o cinema, as primeiras gravações caseiras, depois as gravações dos primeiros curtas com a ajuda de amigos, até o encontro com um dos maiores nomes da história do cinema, que daria a ele o norte definitivo na carreira. Muito mais do que uma realização pessoal do diretor, é um filme sobre a arte de fazer cinema, e isso por si só já é encantador. O filme do ano não poderia ser outro.

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