segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Crítica: Godzilla: Minus One (2023)


Aparecendo pela primeira vez nos cinemas em 1954, Godzilla já teve sua história contada mais de trinta vezes nas telas desde então, entre filmes live action e animações. Gigantesco, com a aparência mesclada entre dinossauro e réptil, e praticamente indestrutível, ele sempre foi considerado o "reis dos monstros", além de ser visto como uma personificação simbólica do medo dos japoneses diante das armas nucleares após a Segunda Guerra Mundial. Godzilla: Minus One, do diretor Takashi Yamazaki, é praticamente um filme homenagem pelos 50 anos do personagem, que resgata a essência dos filmes primordiais e o propósito da existência do Godzilla, e apresenta ele de uma maneira impressionante.


O grande acerto do filme é a forma como ele começa e termina abordando os traumas de um Japão pós-guerra, completamente destruído pelos bombardeios e pelas bombas nucleares lançadas pelos Estados Unidos, além de estar economicamente desesperançado. O foco do filme é na relação da população civil com o conflito e com estes problemas subsequentes, como é o caso de Koichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), um piloto kamikaze que desertou durante a guerra e viu o Godzilla trucidar todo um batalhão de soldados após pousar o seu avião na ilha de Odo.

Um ano se passou e agora Koichi está de volta a Tóquio, enfrentando muitas dificuldades após descobrir que seus pais morreram nos bombardeios. É na cidade que ele conhece Noriko (Minami Hamabe), uma mulher que está cuidando de uma criança recém orfã, e que ele decide acolher em sua pequena e apertada residência. A convivência dos três vai se intensificando, na medida em que o Japão também vai entrando novamente nos eixos, mas a ameaça do Godzilla na cidade pode colocar tudo a perder novamente.

Gostei muito de como o filme trabalha a personalidade de Koichi, um homem que tinha o dever de se matar pela pátria, e não o fez, sendo taxado pelos colegas de covarde e tendo que viver com este sentimento eternamente. Porém, em outra conversa, alguém o elogia por ter tido a coragem de abandonar a guerra, deixando claro que esta história de morrer pela pátria não faz sentido algum. A discussão é muito bem trabalhada pelo roteiro, assim como outras questões pertinentes sobre guerra, pátria e honra. O protagonista também é muito humano, como dá para sentir na própria atitude que ele tem de cuidar de uma mulher e uma criança sem ter obrigação, apenas por bondade.


Se na parte dramática o filme já é extremamente competente, nas partes mais movimentadas, com o Godzilla em ação, ele fica ainda mais grandioso. O trabalho visual é impecável, e há muito tempo eu não via um CGI sendo tão bem utilizado em cenas de destruição em massa. Pois sim, o Godzilla destrói tudo que vê de forma indiscriminada, e a maneira como o diretor utiliza vários ângulos de câmera para mostrar isso é irretocável. Algumas cenas são um espetáculo à parte, como a que o Godzilla persegue um barco em alto mar. Talvez não haja nada igual este ano, em termos de criar agonia e tensão no espectador. É brilhante! A própria figura do Godzilla também é uma das mais amedrontadoras que já se viu dele, se não a mais. Cada preparação dele para lançar seu "raio atômico" é um espetáculo estarrecedor.

É nítido que o filme possui algumas facilitações, alguns exageros aqui e ali, e até mesmo algumas atuações afetadas, mas os acertos são tantos, que estes detalhes acabam sendo deixados de lado no resultado final. Mais do que um filme sobre um monstro que destrói cidades inteiras, Minus One é um filme sobre as consequências dolorosas de uma guerra, sobre culpa, e principalmente sobre como a sociedade lida com desastres de magnitudes inimagináveis. Aqui é o Godzilla, mas poderia muito bem ser uma bomba atômica, e a referência está ali para todos verem.

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