quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Crítica: Nosso Sonho (2023)


Se existe um gênero cinematográfico que está em alta é o das cinebiografias. Nos últimos anos, infindáveis histórias contando a vida de figuras famosas da música e da cultura pop foram levadas às telas, e essa tendência também atingiu recentemente o cinema brasileiro. O mais novo exemplo disto é Nosso Sonho, dirigido por Eduardo Albergaria, que conta um pouco da história da dupla Claudinho & Buchecha, que foi um estrondoso sucesso nos anos 1990.


O filme é narrado sob a perspectiva de Buchecha (Juan Paiva), e inicia ainda na infância quando ele conheceu o menino Claudinho na época em que ambos moravam em São Gonçalo. Apesar da forte amizade criada entre os dois, eles acabaram ficando anos afastados após Claudinho se mudar com a família, mas quis o destino que eles se reencontrassem ainda na adolescência, quando Buchecha precisou sair da casa dos pais. Na mesma época, o funk começava a surgir nas favelas como um novo ritmo que chegava para ficar, e vendo uma oportunidade de prosperar através da música, os dois decidem formar uma dupla para participar de um concurso de MC's na favela do Salgueiro.

Este concurso serve como trampolim para a carreira da dupla, que logo passa a se apresentar na televisão e ganha o país inteiro com seu "funk melody". Porém, confesso que me incomodou bastante a forma como o roteiro, e principalmente a montagem, no traz esse momento de surgimento dos dois no meio artístico. Não há uma contextualização de como eles se "descobriram" artistas, e a impressão que fica é a de que eles aprenderam a cantar repentinamente, que apareceram na televisão de um dia para o outro, e que o sucesso também veio absolutamente do nada, pois não há um ponto de ligação entre os dois extremos da carreira. O filme também perde a chance de trabalhar melhor a questão da importância que foi ter dois jovens negros, oriundos da periferia, chegando à televisão e fazendo tanto sucesso numa época em que isso ainda era considerado um tabu. Também senti falta de mais momentos que mostrassem as composições das músicas e todo o processo criativo da dupla.

Outro ponto negativo é a relação de Buchecha com o pai, que fica um pouco confusa em determinados momentos. Inlcusive o pai, vivido por Nando Cunha, é um personagem detestável, onde é impossível criar qualquer sentimento de empatia. De tudo, no entanto, o que mais me incomodou no filme foi o excesso de maneirismos que existe no roteiro. É tudo muito convencional, e eu não consegui me envolver como gostaria com a história. Isso não é de forma alguma culpa dos atores, e eu inclusive destaco aqui a atuação de Lucas Penteado (conhecido recentemente por ter participado do Big Brother Brasil), que está fenomenal na pele do Claudinho. Até mesmo a língua presa, que era característica do cantor, é trazida pelo ator de uma maneira que não fica nada caricata, e o que temos é um personagem extremamente carismático e apaixonante, à altura do que Claudinho merecia.


Por fim, apesar dos inúmeros defeitos, não dá para negar que Nosso Sonho é um projeto que foi nitidamente realizado com amor, principalmente por ter tido o próprio Buchecha por trás, demonstrando que tudo, na verdade, não passou de uma homenagem dele ao companheiro, morto em um acidente de carro em 2002. A trilha sonora, como já era de se prever, comanda o clima de nostalgia o filme inteiro, e só por isso já vale a vista.

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