terça-feira, 24 de outubro de 2023

Crítica: O Próprio Enterro (2023)


Dirigido por Margaret Betts (de Noviciado), O Próprio Enterro (The Burial) é uma comédia dramática de tribunal que chegou recentemente no catálogo brasileiro do Prime Vídeo e me surpreendeu bastante. Se na teoria o roteiro não me parecia promissor, na prática fiquei encantado com o tom de humor do filme e principalmente com as atuações de um trio de atores espetacular: Jamie Foxx, Tommy Lee Jones e Jurnee Smolett.


O longa se passa na metade dos anos 1990 e acompanha o caso real de Jerry O' Keefe (Jones), dono de uma pequena funerária no Mississípi gerida pela família há décadas. Ao tentar firmar um contrato com a Loewen, um gigantesco conglomerado corporativo de funerárias, Keefe acaba sendo enganado pelo grupo, que é chefiado pelo magnata Raymond (Bill Camp). Bilionário, Raymond é o típico ser humano desprezível e ganancioso que não tem o mínimo de consideração por nada e nem ninguém, e que passa a vida impune de seus atos.

Disposto a reverter isso, e fazer com que Raymond pague pelo que fez, não somente com ele mas com todas as suas vítimas, Keefe decide procurar William Gary (Jamie Foxx), um excêntrico e megalomaníaco advogado, que é conhecido por pegar apenas casos milionários, que possibilitaram ele adquirir mansões, carros importados e até mesmo um avião próprio ao longo da carreira. Em um primeiro encontro, Gary se nega a assumir o caso por três motivos: acha que o valor da indenização é muito insignificante, não vê como um caso ganho (outra de suas exigências ao aceitar fazer uma defesa) e, acima de tudo, jamais havia defendido um homem branco.


Quem muda a visão de Gary sobre o caso é o recém formado Hal Dockins (Mamoudou Athie), que mostrando alguns dados, consegue convencê-lo de que o caso pode, sim, ser muito maior do que eles inicialmente imaginavam. Além do mais, Keefe será julgado em um condado majoritariamente habitado pela população negra, incluindo o juiz, o que facilitaria a ação do advogado. O que ele não contava, no entanto, é que o outro lado, sabendo desta sua intenção, contrataria um time de advogados negros, encabeçados pela competentíssima Mame Downes (Smolett). A atriz tem uma presença incrível em cena, e para mim é o grande destaque de um filme que justamente tem sua força nas atuações.

Gostei muito da forma como a diretora utiliza o humor aqui, de uma maneira muito natural. Por trás deste tom leve, no entanto, temos um tema bastante complexo, que é a corrupção no meio corporativo, em que grandes multinacionais tentavam (e ainda tentam) "engolir" os pequenos negócios familiares da maneira mais suja possível, sempre acreditando na eterna impunidade. O roteiro  ainda aproveita para tecer algumas críticas interessantes sobre o racismo, mas também faz isso com graça e descontração.


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