domingo, 1 de outubro de 2023

Crítica: Rotting in the Sun (2023)


Escrito, dirigido e também protagonizado pelo chileno Sebastián Silva, Rotting in the Sun é uma tragicomédia sarcástica, despudorada e divertidíssima, que mistura o tom cômico com elementos de suspense, criando uma história enérgica que fala, dentre outros temas, sobre saúde mental e exposição exacerbada nas redes sociais.


O filme começa com o próprio Sebastián (interpretando ele mesmo), que está desiludido e vivendo uma grave crise de identidade, ficando cada vez mais obcecado com ideias suicidas e se anestesiando com Cetamina diariamente. O livro que ele está lendo, do filósofo niilista Emil Cioran, não é por acaso, e quando ele descobre que é fácil conseguir um determinado remédio que facilitaria dar um fim à própria vida, ele fica ainda mais determinado sobre isso. Para tentar distrair a cabeça, ele segue o conselho de um amigo e vai passar um fim de semana em uma praia de nudismo frequentada apenas por gays, que vão até lá especificamente em busca de aventuras sexuais. Na beira da praia ele conhece Jordan (Jordan Firstman), um influencer digital que tem milhares de seguidores e diz ser seu fã de carteirinha. A partir de então, Jordan passa a filmar e postar suas aventuras pelo local ao lado do cineasta, sendo até mesmo abusivo em não deixar escapar absolutamente nada.

Nesta primeira parte o diretor não poupa de mostrar uma dezena de pênis dos mais diversos tamanhos e ângulos, e até mesmo sexo explícito, o que pode causar um certo estranhamento. No entanto, não vi como algo puramente pornográfico, e sim como um elemento que compõe o ambiente em que a obra está inserida (uma praia de nudismo só de homens procurando sexo). Inclusive, as cenas de atos sexuais que aparecem não foram encenadas, e eram verdadeiros frequentadores da praia que aceitaram ser filmados no local enquanto as cenas do roteiro eram rodadas perto deles.



Quando Sebastián volta da viagem para a Cidade do México, o roteiro toma um rumo diferente após acontecer um acidente fatal. A trama ganha ares de seriedade quando começa a acompanhar o desenrolar das investigações desta tragédia, porém sem perder os traços de humor, que faz tudo ser extremamente leve e ainda mais instigante. O grande destaque nesta segunda parte é a personagem Vero, vivida pela excelente Catalina Saavedra (de A Criada), cujo desenvolvimento é sensacional. Se no início ela era apenas a faxineira tímida que trabalhava no prédio onde Sebastián morava, do meio para o final ela ganha um protagonismo latente e interessantíssimo de acompanhar.

O roteiro tem um clima quase documental, inclusive no próprio uso das câmeras, que por vezes se assemelham a câmeras de smartphones, estabelecendo uma relação entre a história e o mundo particular em que vive o influencer que a protagoniza. Algumas piadas são extremamente certeiras, como o fato de Jordan só conseguir se comunicar com Vero através do Google Tradutor (ela fala só espanhol, ele apenas inglês), o que rende bons resultados quando a tecnologia não ajuda da maneira como deveria.


Apesar da abordagem excêntrica e da roupagem de comédia, o que o diretor tentou tratar acima de tudo era a questão da saúde mental, já que o tema "suicídio" é bastante citado pelos personagens, sendo inclusive uma motivação para o protagonista. Pode-se debater a forma como tudo foi apresentado, mas eu particularmente achei muito original a maneira com que o diretor fala sem pudor nenhum de temas atuais e pertinentes.


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