sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Crítica: When You Finish Saving the World (2023)


Jesse Eisenberg já possui uma carreira de relativo sucesso como ator, e agora no alto de seus 39 anos decidiu se arriscar também na direção com "When You Finish Saving the World", um drama morno mas bastante sincero que mergulha nas relações familiares contemporâneas e no distanciamento emocional que é cada vez mais comum dentro delas.


A trama nos coloca dentro de uma família cuja comunicação parece simplesmente não existir dentro das quatro paredes, enquanto ironicamente todos buscam aprovação do mundo exterior. Ziggy (Finn Wolfhard), por exemplo, vive fechado em seu quarto, onde toca músicas que ele mesmo compõe para pessoas do mundo todo através de uma plataforma chamada Hi Hat, com o nome artístico de TheRealZiggyTiger. Ali ele se sente querido e amado pelos "fãs" que o apoiam e lhe dão boas gorjetas, o que faz ele sonhar ainda mais alto com uma futura carreira na música.

Sua mãe, Evelyn (Julianne Moore), trabalha em um lar que abriga mulheres vítimas de violência doméstica, mas apesar de cuidar dessas pessoas em situação de vulnerabilidade e até mesmo salvar a vida delas em muitas ocasiões, parece tratar tudo com certa frieza, fugindo daquela figura ativista que luta por uma causa digna e um "mundo melhor". Este comportamento de distanciamento emocional da personagem também é refletido em casa, onde tudo parece muito hostil. O filho xinga os pais, que passivos apenas acatam suas palavras sem confrontar, criando um filho cada vez mais mimado e irrepreensível. O pai, aliás, não tem nenhum desenvolvimento, sendo quase um mero figurante apático e indiferente neste ambiente confuso.

O roteiro logo tenta desvirtuar essa imagem que ele mesmo cria de Ziggy, quando o garoto faz amizade com Lila (Alisha Boe) e passa a frequentar reuniões políticas de estudantes, mostrando um lado seu que até então era desconhecido. A mãe, por outro lado, se apega ao filho de uma das mulheres que acolheu, Kyle (Billy Brik), como se buscasse preencher a lacuna que a relação com o filho deixa na sua vida, incentivando o jovem desconhecido a entrar para a faculdade e ter o futuro que ela sempre sonhou para o seu filho.


Apesar do ritmo cadenciado, o grande acerto do filme são as atuações de Moore e Wolfhard, que conseguem ser muito seguros mesmo na pele de personagens extremamente intragáveis. No fim das contas, When You Finish Saving the World é um retrato fidedigno deste distanciamento que há dentro das famílias, que só se encontram na mesa para comer, trocam poucas palavras de afeto e não se importam em saber o que o outro esta pensando e fazendo da vida. Um sintoma cada vez mais comum, infelizmente.

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