domingo, 15 de outubro de 2023

Crítica: You Hurt My Feelings (2023)


A cineasta Nicole Holofcener já é conhecida por tratar nas telas o "white people problem" de novaiorquinos que, em geral, são estáveis financeiramente e possuem uma boa estrutura familiar, mas que mesmo assim não conseguem fugir das crises existenciais que surgem na faixa dos quarenta. Foi assim em À Procura do Amor e em Gente do Bem, e com You Hurt My Feelings não poderia ser diferente.


O roteiro acompanha o casal Beth (Julia Louis-Dreyfus) e Don (Tobias Menzies). Ela é uma escritora que tenta a todo custo conseguir um espaço nas livrarias para seu livro de memórias, enquanto Don é um psicólogo que anda descontente com sua profissão e se acha medíocre por não conseguir ajudar seus pacientes da forma como gostaria. A vida dos dois muda quando Beth descobre uma traição de Don. Mas não estou falando da traição como todos conhecemos, e sim de um ato de Don que Beth considera a pior das traições: sem querer ela flagrou ele falando muito mal de seu livro e de suas pretensões como escritora. A partir de então, a crise existencial toma conta de Beth, que passa a desacreditar em si mesma e principalmente na relação que tem com as pessoas em volta.

Apesar do roteiro ser um tanto superficial e as preocupações dos personagens serem relativamente insignificantes, a atuação dos dois protagonistas ajuda o filme a manter os pés no chão. Conhecidos por seus papéis em séries de televisão (ela na comédia e ele no drama), Dreyfus e Menzies combinam bem na pele deste casal narcisista (e chato), que precisa urgentemente reencontrar um sentido para a vida e para o próprio relacionamento. No entanto, as melhores cenas do filme não envolvem os dois juntos, até porque não há muito desenvolvimento destes personagens, e o ponto alto acabam sendo as cenas que acontecem dentro do consultório de Don, tanto com o casal que procura terapia para tentar acertar aquilo que já não tem mais conserto, como o jovem solitário que está tentando aprender como viver neste mundo maluco.


O tom leve e descompromissado pode até funcionar as vezes, mas se o filme não apresenta nenhuma reviravolta ou novidade durante sua duração, acaba ficando entediante. E infelizmente é o que acontece com You Hurt My Feelings. Há um conflito evidente após a descoberta de Beth, mas os personagens não são devidamente confrontados com isso. Talvez a intenção da diretora fosse justamente mostrar como as relações precisam ter o diálogo como base de tudo, mas neste caso acaba sendo apenas um filme "bonitinho", mas sem sal.

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